Atualmente, as questões de diversidade e inclusão estão em quase todas as agendas mundiais, sejam elas políticas, sociais ou econômicas. Na moda, desde os anos 1980, de forma totalmente autêntica e pioneira, o estilista Jean Paul Gaultier trabalha com essas temáticas. O assunto foi abordado em um trabalho acadêmico que produzi neste ano. Por isso, neste post do blog, trago detalhes sobre o legado do designer de moda.
Homenagem a Gaultier
O meu artigo homenageia Jean Paul Gaultier. Publicado em março deste ano, o trabalho acadêmico foi desenvolvido para o Caderno do Centro de Estudos em Design e Comunicação Nº128, da Universidade de Salamanca, da Espanha, junto à Universidade de Palermo, da Argentina.
No trabalho, abordei a mensagem social muito forte e de alto impacto que está no trabalho do estilista. Com referências multiculturais e sem discriminação, Gaultier fez história na moda.
Destaco a frase favorita de Jean Paul Gaultier: “La beauté est partout” (A beleza está em toda parte). É uma mensagem de amor e empatia que reflete sua convicção de que não existem corpos, gêneros, religiões, raças e orientações sexuais às quais um julgamento de valor pode ser atribuído.
Quem é Jean Paul Gaultier
Conhecido como “L’enfant terrible de la mode”, Jean Paul Gaultier é considerado mundialmente um símbolo da cultura francesa. Autodidata, tornou-se um importante ícone da moda.
Jean Paul Gaultier nasceu em 1952, em Bagneux, na França. Ele cresceu em subúrbios ao sul de Paris. No entanto, foi com a avó materna, Mémé Garrabé, que ele descobriu o universo feminino. Os penteados, os espartilhos e seus laços, as anáguas, os perfumes… tudo isso o fascinava.
Foi em 1976 que lançou a marca homônima, na capital francesa. No início, Londres era uma fonte de inspiração, mas a cidade que o estilista sempre gostou de morar é Paris.
Gaultier é disruptivo. Foi o protagonista na alta-costura dos anos 1980, com uma mensagem completamente moderna. O New Look da Dior (famoso na década de 1950), por exemplo, estabelecia uma cintura fina, enquanto Jean Paul Gaultier, mais tarde, passou a valorizar todos os tipos de corpos.
Em 1966, quando Yves Saint Laurent trouxe o smoking feminino, Jean Paul Gaultier tinha 14 anos e percebeu a ousadia do designer ao desenvolver peças masculinas para o universo feminino. Depois, JPG fez o contrário: levou peças femininas, como saias, para o universo dos homens.
Durante toda a carreira, o trabalho do designer foi repleto de referências afetivas. O bairro popular, o apoio de sua avó materna, seu ursinho de pelúcia e o filme Paris Frills (Falbalas) são peças importantes na memória de Jean Paul Gaultier, que ele vai evocar ao longo de sua vida.
Esses momentos são retratados em relatos, coleções, na exposição em sua homenagem no Grand Palais em 2015, e também no Fashion Freak Show. O espetáculo, que eu tive a oportunidade de assistir, foi apresentado pelo próprio estilista para contar a sua história, com estreia em 2018.
Ao longo dos anos, ficou claro que o francês parece ter nascido com o ideal de um mundo diverso. Deixa um legado inovador e a genuína expressão da tentativa de incluir o gosto de todos pela moda e a comunicação por meio do vestuário.
Jean Paul Gaultier é imbatível na arte de misturar tudo, com transgressão e humor. As coleções e os desfiles têm um bom impacto, com toque performático; sempre um verdadeiro show. Couro em abundância, calças com zíper e muito preto viraram características marcantes do DNA criativo.
A marca idealizada por JPG faz parte do seleto ramo da alta-costura, o setor mais sofisticado da moda. No segmento, é membro permanente, ao lado de marcas como Chanel, Schiaparelli e Givenchy. O designer deixou o prêt-à-porter em 2014 e passou a se dedicar somente à alta-costura.
No início de 2020, Jean Paul Gaultier se aposentou das passarelas, depois de 50 anos de carreira. A última coleção desenhada por ele foi a de haute couture na temporada de primavera/verão 2020.
Posteriormente, a maison anunciou um rodízio de diretores criativos, para que diferentes estilistas convidados assumam o comando da marca, de forma temporária. Desde então, os selecionados foram Chitose Abe, fundadora da Sacai, e Glenn Martens, que está à frente de labels como Y/Project e Diesel.
Os símbolos de estilo
Sem dúvida, o espartilho de seios cônicos que Jean Paul Gaultier fez para a popstar Madonna virou um emblema da década de 1990. Foi inclusive uma das peças que eu apresentei na timeline da moda recentemente. A peça é simbólica: representa a liberdade de que as mulheres podem usar a sensualidade como quiserem.
Entre os símbolos de estilo de JPG, estão clichês de Paris, como a boina, o sobretudo e a Torre Eiffel. Além disso, o designer fez da famosa marinière – a clássica camiseta listrada – seu próprio uniforme. Ele se apropriou dela de uma forma que quem não conhece a história da moda pode pensar que foi ele quem a inventou.
O interessante é que ele revisita peças icônicas de sua marca em quase todas as suas coleções, impondo coerência e consistência ao próprio marketing. O sucesso de Gaultier também está na continuidade de um vocabulário de estilo e códigos que encontrou no início de sua carreira.
O casting e a pluralidade
As criações de Gaultier rompiam com tradições e convenções ultrapassadas. E isso não ficava apenas nas coleções, mas também nos castings de desfiles e campanhas. Quando o estilista escolhia seu elenco, apostava nas causas que desejava abraçar. Pluralidade é a palavra que rege.
Entre os exemplos, está a modelo trans Andreja Pejic, que usou o vestido de noiva na coleção primavera/verão 2011 da alta-costura; uma mensagem clara de diversidade. Beth Ditto, cantora e ativista dos direitos LGBTQ, também desfilou para a maison.
Quem também está na trajetória de casting de Jean Paul Gaultier é a dançarina burlesca norte-americana Dita Von Teese, assim como Farida Khelfa. A modelo representava o completo oposto do padrão de beleza dos anos 1980, que eram as loiras ao estilo sueco que apareciam em revistas femininas como a Vogue francesa ou a Elle.
A lista continua com a grande atriz Rossy de Palma, protagonista da maioria dos filmes de Almodóvar. Ela se tornou uma musa de Gaultier. Em geral, várias personalidades do mundo do entretenimento estiveram no repertório da label.
Diversidade e inclusão são valores verdadeiros para Jean Paul Gaultier, que possui uma profunda sensibilidade humana. Ele nos ensina a ter orgulho das diferenças. Uma utopia ou uma mensagem social muito forte e de alto impacto? Com certeza, o estilista propõe um mundo ideal, no qual eu gostaria de viver.
Você sabia que Jean Paul Gaultier é um dos estilistas que estão no meu curso on-line “10 Estilistas que você deve conhecer? Além do digital, no ano que vem, o Paris Style Week estará de volta no presencial. De 14 a 18 de março de 2022, receberei participantes para cinco dias de experiências exclusivas no glamour da moda parisiense. As inscrições já estão abertas. Clique aqui e saiba detalhes sobre a programação.
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