Você sabia que o vestido mais copiado da história da moda foi desenvolvido por Yves Saint Laurent (1936-2008)? Trata-se de uma série de peças inspiradas no trabalho do pintor Piet Mondrian (1872-1944). Na década de 1960, o estilista francês reinterpretou o colorido das obras do artista holandês em uma coleção inteira. A releitura emblemática, que mistura moda e arte, virou um ícone fashion.
Mondrian by Yves Saint Laurent
Os vestidos em homenagem a Piet Mondrian foram concebidos para a coleção de outono/inverno 1965. Cada bloco intencionalmente colorido foi remendado com maestria para criar a aparência fiel da pintura intitulada “Composição II em Vermelho, Azul e Amarelo”, de 1929. Como o próprio nome já diz, a obra é composta por tonalidades primárias, em nuances vibrantes.
Feito em jersey, que é um material bastante rígido, o modelo é uma verdadeira proeza. Não apenas pela estampa, mas principalmente por toda a construção do vestido em formas geométricas, sem costuras visíveis. Os cortes e o caimento são muito precisos, apesar da complexidade da mistura de cores.
Um detalhe interessante: à época Yves Saint Laurent pediu à Madame Muñoz, que trabalhava no ateliê de alta-costura e estava com ele desde os tempos da Dior, para ajudá-lo a escolher quem faria o protótipo da peça. O selecionado foi Azzedine Alaïa, antes de ser famoso.
Para apresentar a coleção Mondrian, também foram desenhados calçados (Trotteurs) feitos pelo designer Roger Vivier. Foram peças pretas, com bico levemente retangular, decoradas com fivela quadrada metalizada. Combinavam perfeitamente com os vestidos, que tinham comprimento na altura do joelho.
Não é segredo que Yves Saint Laurent era um grande admirador da arte. A coleção inspirada em Mondrian foi um pontapé para uma carreira que envolveu referências de personalidades artísticas como Matisse, Pablo Picasso, Van Gogh e Andy Warhol.
Ele não foi o único designer a se inspirar na arte. Elsa Schiaparelli em colaboração com Salvador Dalí, por exemplo, fez um chapéu em forma de sapato, como eu já citei aqui no blog. No entanto, no caso de YSL, a arte ultrapassa o nível de inspiração e transcende como uma verdadeira obra, que pode ser usada no corpo. Afinal, o estilista transformou o quadro em roupa.
Além de usar referências artísticas, ele colaborou com a escultora Claude Lalanne. Para o outono/inverno 1969, a collab resultou em dois vestidos particularmente marcantes, com cintura e seios moldados em cobre.
Exposição
Em fevereiro de 2019, o Museu Yves Saint Laurent, que é uma atração turística imperdível em Paris, apresentou uma seleção especial com com mais de 50 peças de alta-costura. Na exibição, uma seção foi dedicada inteiramente à coleção baseada em Mondrian.
Eu tive a oportunidade de visitar a iniciativa em diferentes ocasiões, com grupos do meu programa Paris Style Week. Foi em uma dessas experiências que me chamou atenção quando uma das guias revelou que o modelo Mondrian foi o vestido mais copiado da história da moda.
Fundado no fim de 2017, o Museu Yves Saint Laurent fica onde era o ateliê do estilista. Na 5 Avenue Marceau, o designer passou quase trinta anos desenhando coleções, de 1974 a 2002. Atualmente, no ambiente, está aberta a mostra “Yves Saint Laurent: Nos bastidores da alta-costura em Lyon”, que ficará até 5 de dezembro deste ano.
Confira a live (disponível na íntegra ao fim deste post) que eu fiz da exposição em cartaz. Todos os detalhes estão no IGTV do Instagram do Paris Style Week. Eu estou sempre apresentando as novidades de Paris!
Quem foi Yves Saint Laurent
Um dos nomes que fazem parte do meu curso “10 Estilistas que você deve conhecer”, Yves Saint Laurent nasceu em Oran, na Argélia, em 1º de agosto de 1936. Naturalizou-se francês.
Em 1953, com apenas 17 anos, YSL participou da competição anual Secrétariat International de la Laine. O júri foi composto por designers renomados, como Hubert de Givenchy e Jacques Fath.
A competição era dividida em três categorias nas quais cada candidato poderia participar: casacos, ternos e vestidos. Saint Laurent conquistou o terceiro lugar na categoria de vestidos.
Com a ajuda do pai, conheceu Michel de Brunhoff, redator-chefe da Vogue Paris, em sua primeira visita à capital francesa. Foi Brunhoff quem o encorajou a desenhar. Também o apresentou a Christian Dior.
Em setembro de 1954, deixou Oran e se mudou para Paris. Ele estudou na École de la Chambre Syndicale de la Haute Couture antes de ingressar no estúdio de Christian Dior, menos de um ano após sua chegada à capital francesa. Quando Dior morreu, em 1957, Yves Saint Laurent se tornou seu sucessor. Ficou conhecido como “o príncipe da moda”.
Em 1958, YSL conheceu Pierre Bergé (1930-2017). Juntos, formaram uma parceria no amor e nos negócios, que serviu de base para a casa de alta-costura que inauguraram em 1961.
Entre inúmeros designs memoráveis, YSL foi o responsável por criar o smoking feminino. Pensado especialmente para os corpos das mulheres, o item foi revelado na coleção de outono/inverno 1966.
“Para uma mulher, o smoking é uma peça indispensável, na qual ela sempre se sentirá na moda, pois é cheia de estilo e não apenas uma peça de roupa da moda. A moda muda, mas o estilo é para sempre”, declarou o estilista, que teve musas como Catherine Deneuve, Loulou de La Falaise e Betty Catroux.
Yves Saint Laurent morreu em 1º de junho de 2008, mas deixou um legado incrível na moda. A direção criativa da maison foi assumida por estilistas como Stefano Pilati e Hedi Slimane. O belga Anthony Vaccarello está atualmente no comando da marca.
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Respostas de 3
Meu amado designer! E este vestido já é um modelo de culto.