Como já falei por aqui, no blog, a alta-costura é o coração da moda; o segmento mais luxuoso, artesanal e exclusivo. A Federação Francesa de Alta-Costura e da Moda organiza o principal evento do setor, duas vezes por ano: a Semana de Alta-Costura. Trata-se uma oportunidade sublime para observar o trabalho artístico e cheio de fantasia: técnicas impecáveis, tecidos nobres, modelagens minuciosas, inspirações com significado e acabamentos precisos.
A edição de outono/inverno 2022/23 da semana de moda de haute couture aconteceu entre os dias 4 e 8 de julho. É claro que assisti aos desfiles com atenção. Neste post, reúno os principais destaques do calendário: Schiaparelli, Dior, Chanel, Balenciaga e Jean Paul Gaultier.
Schiaparelli
abertura da Semana de Alta-Costura
Como de costume, a Schiaparelli foi a marca responsável pela abertura da Semana de Alta-Costura. Para o outono/inverno 2022/23, o diretor artístico, Daniel Roseberry realizou um show poético e emocionante. Na passarela, as modelos caminhavam em ritmo lento, como nos anos 1990. O estilista ressaltou a verdadeira beleza, com a sofisticação de muito preto e branco, assim como preto com dourado.
Sempre presente nas coleções da Schiaparelli, o surrealismo não ficou de fora. Formas de orelhas, asas e uvas apareceram nos visuais. Vale reparar também nos arranjos maximalistas de flores como girassóis, hortênsias, tulipas, orquídeas e margaridas.
Nos looks apresentados, os bordados e os adornos metalizados chamaram atenção. O estilista também desenhou peças com silhuetas amplas, transparência, volume e plumas. Entre os materiais utilizados, lurex, cetim, tafetá, com destaque para o veludo. Na lista de acessórios, o chapéu de palha foi visto em diferentes tamanhos.
O desfile aconteceu em 4 de julho, mesmo dia escolhido para a abertura de uma exposição inédita em homenagem à fundadora da maison, Elsa Schiaparelli, no Museu de Artes Decorativas. O nome é “Shocking ! Les Mondes Surréalistes d’Elsa Schiaparelli” (Shocking: Os Mundos Surrealistas de Elsa Schiaparelli).
Uma das salas, inclusive, é dedicada à atualidade da Schiaparelli, com criações de Daniel Roseberry. Entre as obras, por exemplo, está o traje usado por Lady Gaga, em janeiro, na posse de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos.
Eu tive a oportunidade de visitar a exposição da Schiaparelli logo na estreia. Também vi de perto a cenografia magnífica do desfile de haute couture. O tom de grandiosidade da apresentação combina com a inauguração de uma das maiores mostras de moda de todos os tempos em Paris. Incrível!
Dior
Para a temporada na Semana de Alta-Costura, a Dior se baseou no conceito de “artesanato como recurso que une um mundo sem fronteiras”. Também em 4 de julho, a maison comandada por Maria Grazia Chiuri revelou uma coleção desenvolvida com inspiração no uso da árvore da vida, universalmente simbólica.
Diferentes looks retratam elementos da natureza, principalmente folhas e galhos em bordados e apliques de rendas. A paleta de cores é sóbria: os pigmentos protagonistas são preto, branco e tons de bege. No entanto, tonalidades vibrantes, como amarelo, azul, rosa e vermelho, também surgiram na passarela.
Entre os highlights, estão o patchwork e a estampa xadrez. No show, segundo a própria grife, a silhueta do New Look ganhou uma nova interpretação. O corpete foi suavizado com relevos acolchoados e volume mais suave na saia de pregas.
Chanel
No dia 5 de julho, a Chanel integrou o cronomogra de desfiles da Semana de Alta-Costura. O compilado assinado pela diretora criativa Virginie Viard foi revelado no centro equestre Étrier de Paris. A decoração foi assinada pelo artista Xavier Veilhan, com direito ao rapper Pharrell Williams tocando bateria na passarela.
Jaquetas de corte reto em tweed foram pensadas em conjuntos com saias longas, assim como vestidos elegantes. Tranças e bordados de lã complementaram os outfits. O metalizado também teve vez.
Estampas delicadas de rosas, ombros marcados e renda também marcaram as criações da Chanel para o outono/inverno 2022/23. Nos pés, impossível não reparar as botas no estilo cowboy.
Balenciaga
Provavelmente, como já era de se esperar, um dos shows mais comentados da temporada foi o da Balenciaga, em 6 de julho. Com direção criativa de Demna Gvasalia, a marca elencou celebridades como Kim Kardashian, Nicole Kidman e Dua Lipa para riscarem a passarela. Todo o casting passou pela catwalk em tom sombrio.
Trata-se da segunda coleção de haute couture criada pelo estilista, depois que a Balenciaga ficou 53 anos fora e retornou ao segmento mais sofisticado e exclusivo da moda.
A assimetria esteve em vários looks, assim como máscaras faciais reflexivas, que incrementaram o ar misterioso no desfile e nos outfits apresentados. Nas composições, também estavam o neoprene e o gazar de seda. O prateado não passou despercebido.
Jean Paul Gaultier
A temporada de outono/inverno 2022/23 também ficou marcada pela coleção criada por Olivier Rousteing especialmente para a maison Jean Paul Gaultier. O atual diretor criativo da Balmain aceitou o convite para participar de uma espécie de rodízio de estilistas, que a JPG adota desde janeiro de 2020, quando o fundador se aposentou. A cada temporada de alta-costura, um novo estilista interpreta os códigos da marca.
Uma das personalidades mais reconhecidas e talentosas na moda da atualidade, Rousteing conseguiu reinventar clássicos do DNA da Gaultier para o desfile no dia 6 de julho. Colocou a própria identidade e criatividade nas criações, sem descaracterizar. O espartilho de seios cônicos, por exemplo, ganhou novas texturas e dimensões.
Pelo Instagram, Olivier Rousteing agradeceu ao amigo Jean Paul Gaultier pela experiência. “Você tem sido uma inspiração para mim desde sempre. Dar-me as chaves por alguns meses e tentar mostrar o que posso fazer foi uma benção na minha vida. Obrigado pela confiança, pelo respeito e pela visão. Foi mais que um show, foi uma aventura humana e não tenho palavras para agradecer a toda sua equipe por fazer esse show acontecer”, escreveu.
Na temporada de outono/inverno 2022/23, a Semana de Alta-Costura também teve shows de labels como Iris van Herpen, Giambattista Valli, Alexandre Vauthier, Armani Privé, Elie Saab, Zuhair Murad, Maison Margiela e Fendi. O encerramento do evento foi realizado com o desfile da Valentino, nomeado The Beginning, no dia 8 de julho, excepcionalmente em Roma, na Itália. Confira o vídeo ao fim deste texto.
Não posso deixar de enfatizar que a haute couture representa o que há de mais exuberante, delicado, criativo, genuíno, rebuscado e fantasioso na moda. É a Federação Francesa de Alta-Costura e da Moda que define os rigorosos critérios para as grifes participantes do seleto setor.
Só podem participar da Semana de Alta-Costura marcas selecionadas, que produzem, com foco no artesanato, itens sob medida. As peças, feitas à mão, nascem no ateliê, que deve empregar pelo menos 20 funcionários artesãos. Na semana de moda semestral, cada etiqueta deve desenvolver e apresentar mais de 25 looks.
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Respostas de 3
Uma maravilha tão antiga, que é uma pena que se perca esta beleza no mundo de quem gosta de ver moda, como eu gosto, desde criança. Obrigada
Obrigada por deixar seu comentário, estou vendo um pouco tarde ele, espero que siga gostando dos meus posts.