É muito emocionante poder participar de uma exposição sobre história da moda quando você admira e estudou muito anteriormente sobre a personagem retratada. Esse é o meu caso, em relação à estilista italiana Elsa Schiaparelli, homenageada em uma mostra inédita no Musée des Arts Décoratifs (Museu de Artes Decorativas), em Paris. Chamada “Shocking: Os Mundos Surrealistas de Elsa Schiaparelli”, a exibição ficará em cartaz até janeiro de 2023. São mais de 500 obras e criações reunidas.
Desde que lancei, na pandemia, o curso “10 Estilistas que você deve conhecer”, Elsa Schiaparelli integra o conteúdo. Nunca duvidei que ela deveria fazer parte desse ciclo tão importante. Afinal, trata-se de uma das figuras mais admiráveis e interessantes do mundo fashion.
Nos anos 1930, sendo naquele momento a maior rival de Coco Chanel, Elsa Schiaparelli levou para a moda uma corrente nova de trabalho com artistas. A estilista pertencia ao mundo artístico; tinha muitos amigos do ramo, como Salvador Dalí, Raoul Dufy, Jean Cocteau, e Christian Bérard, entre outros. Para ela, a moda não foi uma profissão comercial; foi uma forma de se expressar e se comunicar por meio da arte.
Chegou a hora, com muita felicidade, de ter uma exposição retrospectiva sobre a vida da designer, que nasceu no ano de 1890 em Roma, e triunfou em Paris. Ela morreu em 1973, mas até hoje tem um sucesso sem igual na moda. Um verdadeiro legado.
Shocking: Os Mundos Surrealistas de Elsa Schiaparelli
A exposição foi vivida por mim, e ainda é, constantemente, vivida por mim, muito intensamente. Já fui muitas vezes, desde a inauguração, que foi o primeiro dia da Semana de Alta-Costura com a temporada de outono/inverno 2022/23. A marca abriu o evento de haute couture justamente com um desfile no Museu de Artes Decorativas de um lado, e a exposição se inagura do outro. Eu tive a sorte de visitar várias vezes por conta própria, inclusive na data de abertura, também e com clientes, por meio do serviço de concierge de moda na capital francesa.
Na estreia, o local estava cheio, com personalidades famosas e relevantes. Inclusive, a Anna Wintour (editora-chefe da revista Vogue norte-americana) passou próxima a mim. Sobretudo, tive o privilégio de ter na apresentação ao meu lado Francisco Pastore, chefe de projetos patrimoniais e culturais da Schiaparelli. Participou durante dois anos da preparação da exibição, em parceria com o Museu de Artes Decorativas e equipe. Não poderia deixar de tirar uma foto com ele, né?! Como alguém que esteve presente em todo o processo de bastidores, é claro que ele pôde me revelar vários segredos.
É tão profunda a exposição! Por lá, estão principalmente peças da própria Elsa Schiaparelli, é claro; peças criadas pelo atual diretor artístico da marca, Daniel Roseberry; peças de outros estilistas que a organização colocou porque foram influenciados por ela ou porque têm algum tipo de coleção inspirada no DNA criativo dela. Entre eles, estão Azzedine Alaïa (com vestido de borboleta); Jean Paul Gaultier (com look que faz referência ao modelito Esqueleto de Schiaparelli); e John Galliano (com a famosa estampa de jornal, criada por Elsa em 1935 e levada por ele para a Dior).
Vale destacar que na mostra também há objetos de decoração que pertencem à loja de Elsa, que ainda fica na Place Vendôme; muitos quadros, principalmente. Também podemos ver diversas fotos e muitos acessórios.
Além das obras que já faziam parte do acervo do Museu de Artes Decorativas, a mostra reúne muitos itens que foram emprestados por outras instituições renomadas globalmente. Por exemplo, o icônico Vestido Lagosta foi cedido pelo Museu de Arte da Filadélfia. Também podemos conferir peças emprestadas pelo Museu Picasso e pelo Museu da Moda de Paris.
Espaços da exposição
Os ambientes da exposição foram pensados estrategicamente, para nos levar de forma cronológica e didática. Na primeira sala, por exemplo, a biografia de Elsa Schiaparelli. Desde o momento em que ela nasce, depois vai de Roma para Inglaterra; da Inglaterra para Nova York; e desembarca em Paris.
Na segunda sala, após passarmos pela biografia, descobrimos como ela conheceu seu mentor, Paul Poiret. O espaço é dedicado a ele. Por isso, conhecemos criações de Poiret, para entender como Elsa começou, como ela fez a primeira peça com ilusão de ótica, e ainda como ela foi passando da moda de dia para a moda de noite.
Em resumo, passa-se pela primeira parte, depois o museu permite que os visitantes subam a escada central e cheguem ao primeiro andar. Após subir, logo tem uma sala dedicada à butique da marca, na Place Vendôme, além de um ambiente destinado aos bordados e à alta-costura, com referência à importante colaboração com a casa especializada Lesage.
Avançamos para a parte especialmente dos perfumes: todas as fragrâncias da label começam com a letra “S”. Depois, um tópico focado nos elementos do zodíaco, com as obras mais luxuosas de Elsa Schiaparelli, além de inspirações usadas por Yves Saint Laurent, que eu vi anteriormente no Museu do Louvre, em comemoração aos 60 anos da Saint Laurent.
Tudo pensado e desenvolvido para contar como a moda é toda ligada. É crucial conhecer a história da moda (que tal fazer isso com curso o meu curso on-line, disponível na plataforma Hotmart?). A partir daí, pode-se entender a exibição com mais profundidade. Afinal, cada vez mais as exposições tentam contar histórias em que ninguém andou por um caminho sozinho. Os designers tinham bons concorrentes e se inspiraram uns nos outros.
Além das peças icônicas
Obviamente, os clássicos de Elsa Schiaparelli estão na homenagem. Não posso deixar de falar sobre capa fúcsia, que abre a exposição! O modelito tem uma medusa nas costas. Claro que também foi abordado o uso do preto e do dourado, um marco na trajetória da designer italiana. Uma das peças icônicas presentes é o Vestido Lagosta, usado pela norte-americana Wallis Simpson, assim como o Chapeau Chaussure, chapéu em formato de sapato.
No entanto, é muito importante ressaltar uma das coisas que eu descobri na exposição, que me abriu muitos olhos… Quando a gente estuda Elsa Schiaparelli, temos a tendência de enquadrá-la no mundo surrealista, que inclusive dá nome à exibição; assim como o rosa-choque, que ela inventou; e a essência de audácia, por meio da qual ela criou modelos bem extravagantes. Contudo, eu descobri que a elegância dela estava também em muitas outras peças, que eram clássicas e com cortes perfeitos.
Conexão com artistas
Parte da exposição é destinada à ligação que Elsa Schiaparelli tinha com artistas. Por exemplo: Pablo Picasso, que pintou a própria mulher como modelo de Schiaparelli. Esse quadro está no local. Ao lado, um look desenhado por Yves Saint Laurent, que se inspirou na obra.
Personalidades como Man Ray, Jean Cocteau, Meret Oppenheim e Elsa Triolet também são retratados. Até chegar em uma sala completamente dedicada a Salvador Dalí, com quem Elsa Schiaparelli fez muitas colaborações. É um espaço muito bem organizado. Incrível!
A atualidade da maison Elsa Schiaparelli
Como adiantei anteriormente, na exposição “Shocking: Os Mundos Surrealistas de Elsa Schiaparelli”, também podemos conferir a atualidade da maison Schiaparelli. As duas últimas salas exibem criações do magnífico Daniel Roseberry, nas quais ele se inspira na história e na herança deixada pela fundadora da marca.
Inicialmente, vemos de perto os visuais da última coleção de haute couture da grife. Depois, outros itens exclusivos. Entre as obras, por exemplo, está o traje usado por Lady Gaga, em janeiro, na posse de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos. Também podemos conferir o vestido de noiva que Roseberry criou para o casamento da própria irmã, neste ano.
Entendemos a moda de hoje porque vemos (e interpretamos!) o passado. Roseberry apresenta hoje algo que consideramos supermoderno, de vanguarda, diferente… e nada é por acaso! Tudo tem contextualização e explicação, com um repertório amplo de referências. Na exibição, é possível captá-las.
Quer visitar?
A iniciativa é maravilhosa, com um enredo extremamente bem contado. Fascinante! Uma dica é prestar bastante atenção. Afinal, são tantas informações que você pode até se perder. É uma exposição na qual eu gosto de ficar por volta de duas horas. É um tempo adequado para ver e analisar tudo com cuidado.
Se despertou em você o interesse de ir à exposição “Shocking: Os Mundos Surrealistas de Elsa Schiaparelli”, tenho uma boa notícia! Você pode visitá-la com o meu programa, Paris Style Week. Na primeira edição de 2022, o Museu de Artes Decorativas também integrou o lineup, com a marcante mostra que celebrou o legado de Thierry Mugler. Quem lembra?
A oportunidade de ir ao museu se repete. Desta vez, com a celebração da trajetória de Elsa Schiaparelli. Vale destacar que, na mostra atual, a cenografia, a iluminação e a coerência nas passagens de uma sala para a outra estão ainda melhores. Uma experiência encantadora!
Em setembro, a turma da segunda edição de 2022 do Paris Style Week terá a exposição retrospectiva de Elsa Schiaparelli como parte do cronograma. A melhor parte: tour com direito a explicações detalhadas feitas por mim. Não se esqueça que a exposição inédita será encerrada em janeiro de 2023. Aproveite!