Criações futuristas e formas geométricas marcaram o DNA criativo de Pierre Cardin (1922-2020). Um dos estilistas mais ousados de todos os tempos, ele nos deixou em dezembro de 2020. No entanto, um grandioso arquivo de suas criações está bem guardado, sob os cuidados de Madame Taponier. A francesa foi uma fiel colaboradora, “braço direito” por mais de 50 anos. Eu tive o privilégio de visitá-la, em Paris. Fiz uma live imperdível (disponível no fim deste post) com peças de alta-costura que fazem parte do acervo do museu dedicado ao legado do designer.
Saiba tudo!
O Museu Pierre Cardin
Em 2006, o museu Passé-Présent-Futur (Passado-Presente-Futuro) foi fundado em Saint-Ouen, na França. Contudo, o acervo foi transferido para Paris. Inaugurado pelo próprio designer em novembro de 2014, o Museu Pierre Cardin ficava na rua Saint-Merri.
Desde que comecei o programa Paris Style Week, o Museu Pierre Cardin estava no meu roteiro, devido à importância que o designer teve para a história da moda. O espaço reunia mais de 250 modelos de alta-costura, desenvolvidos de 1950 aos anos 2000.
A responsável pelo acervo é a Madame Renée Taponier, curadora do museu. Foi lá que a conheci. Ela fazia as visitas com os meus grupos e começamos uma amizade. Sempre mantivemos contato.
Madame Taponier: uma visita exclusiva
Atualmente, o museu oficial está fechado. Provavelmente, segundo o site oficial da instituição, será reinaugurado em 2022. Enquanto isso, inúmeras peças estão guardadas do outro lado da rua. Logo mais, ficarão em um depósito, até a abertura de uma nova exposição.
Na visita exclusiva, no local temporário que não é aberto ao público, pude ver de perto cerca de 100 looks desenvolvidos por Pierre Cardin. As peças representam bem o DNA criativo. Para ilustrar, a maioria das fotos deste post foram tiradas no dia da live.
Durante a década de 1960, o estilista ficou conhecido por designs repletos de futurismo. Fez parte do grupo dos futuristas, junto a Paco Rabanne e André Courrèges, que sentiram a moda de um jeito peculiar e imaginaram o que as pessoas das próximas décadas usariam.
Um fato interessante é o uso de materiais nada convencionais para a época. Inovador, apostava em vinil, PVC e acrílico, por exemplo.
Pierre Cardin se tornou o “guru geometria”. Formas geométricas, principalmente bolhas, viraram um símbolo. Pudemos ver golas circulares e decotes retangulares.
Entre as peças, estão cores vibrantes, estampas em relevo, gorros, rendas, adereços, mangas bufantes, silhuetas marcadas e minissaias. Destaque principalmente para recortes e assimetria.
Outo fato extremamente relevante é que o estilista via a alta-costura, o segmento mais sofisticado da moda, como um “laboratório de ideias”. Ele tinha vontade de tornar a haute couture mais acessível.
Em 1959, revelou a primeira coleção de prêt-à-porter feminino, na loja de departamentos Printemps, na capital francesa. Como Madame Taponier lembrou, Pierre Cardin foi criticado por isso. Posteriormente, a aposta virou um dos pilares de maior sucesso da grife homônima.
Vale destacar que o designer também foi pioneiro das coleções exclusivamente masculinas, nos anos 1960. O primeiro compilado para homens foi apresentado por estudantes franceses.
Pierre Cardin na visão de Madame Taponier
Madame Taponier começou a trabalhar com Pierre Cardin aos 14 anos. Desde então, o estilista e a assistente firmaram uma relação de lealdade. Segundo a francesa, trabalhar com ele foi a grande alegria de sua vida.
“Deus me criou, Pierre Cardin me construiu”: é assim que Madame Taponier fala sobre a ligação com o designer. Emocionada, ela me contou que foi o estilista que a levou até o altar, no dia de seu casamento.
Madame Taponier preferiu não aparecer na live ou tirar fotos, mas tive a oportunidade de conversar sobre detalhes da trajetória do estilista. Ela o definiu como um verdadeiro gênio: “Todo mundo que virá depois não será nem parecido, será ‘fotocópia'”, disse.
Além das criações de moda, Madame Taponier guarda reportagens, imagens e documentos: “Eu sou a memória viva de Pierre Cardin”, orgulha-se a francesa.
No acervo, pude conferir versões do troféu Dedal de Ouro da Alta-Costura. Em 1977, Pierre Cardin recebeu uma edição Dedal de Ouro by Cartier pela coleção mais criativa da temporada. Também venceu o prêmio renomado nos anos de 1979 (pela primavera/verão) e 1982 (pelo outono/inverno).
Uma das paixões do estilista era viajar. Madame Taponier mencionou que o destino preferido foi o Japão. Ele chegou ao país pela primeira vez em 1957.
Um momento muito especial do encontro com Madame Taponier foi quando ela contou que Pierre Cardin pediu para ser enterrado com as tesouras de costura. “Talvez ele esteja criando no céu”, apostou. Emocionante!
Quem foi Pierre Cardin
Pierre Cardin nasceu em 2 de julho de 1922, na cidade de San Biagio di Callalta, em Veneza, na Itália. Com apenas dois anos de idade, ele chegou à França. Cresceu em em Saint-Étienne e foi naturalizado francês.
Em 1945, chegou a Paris. Trabalhou para a Paquin e depois passou pela Schiaparelli. No mesmo período, fez figurinos e máscaras para o filme A Bela e a Fera, de Jean Cocteau.
Em 1946, foi contratado por Christian Dior como alfaiate. Quando o New Look da Dior surgiu, Pierre Cardin estava trabalhando na parte dos tailleurs da maison.
Autodidata, sabia desenhar, cortar e costurar. Foi em 1950 que Pierre Cardin fundou a própria marca, com ateliê na 10 rue Richepanse. Ao longo dos anos, ficou conhecido por criações ousadas e muito à frente de seu tempo.
O estilista vestiu personalidades como Jackie Kennedy e Jeanne Moreau, com quem teve uma relação importante. Foram apresentados um ao outro por Coco Chanel.
Além da na moda, área na qual ele se consagrou, Pierre Cardin teve muito sucesso econômico, por ter criado uma rede de franquias com seu nome no mundo todo. Investiu em setores como hotelaria e perfumaria.
Em 2019, o filme House of Cardin estreou no Festival de Veneza. Dirigido por P. David Ebersole e Todd Hughesum, o documentário faz uma homenagem, com depoimentos do próprio designer e entrevistas com pessoas que o acompanharam.
No ano passado, o estilista faleceu. Viveu quase 100 anos e deixou um legado único. Pierre Cardin não poderia ficar de fora do meu curso “10 Estilistas que você deve conhecer“.
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Uma publicação compartilhada por Paris Style Week by Valeria (@parisstyleweek)
Respostas de 2
Prezada Valeria,
Nao conheci este reportagem, bem feito, parabens!
Estarei em Paris no final de Janeiro, tal vez si o seu agenda nao é muito cruel, poderiamos nos encontrar para um cafezinho, estarei interessado a ter a sua opiniao sob o futuro da marca Pierre Cardin specialmente no Brasil, onde ela se marginalizou
Meu nome esta no web, sou diplomata frances,
Agradeço a atençao
Patrick Howlett-Martin
[email protected]
0616117634
Não tenho opinião sobre o futuro da marca Pierre Cardin, as mudanças na mesma são bem recentes.
Obrigada pelo seu comentário.