Referência de feminismo, autoconhecimento e liberdade, Frida Kahlo (1907-1954) é uma das artistas mais fortes e admiradas da história mundial. No entanto, pouca gente conhece a relação da pintora com a moda. Para sintetizar essa ligação, o Palais Galliera, também conhecido como Museu da Moda de Paris, inaugurou recentemente uma nova exposição. Intitulada “Frida Kahlo, Além das Aparências”, a mostra aborda o vestuário e a influência da mexicana no trabalho de estilistas.
A exposição e a bibliografia de artista mexicana
Com curadoria de Circe Henestrosa, a exposição é realizada em colaboração com o Museu Frida Kahlo, pela primeira vez na França. No Palais Galliera, estão exibidos mais de 200 objetos da Casa Azul, onde Frida nasceu e cresceu. Eu tive a oportunidade de visitar no dia seguinte da estreia, em setembro de 2022.
A primeira parte é uma viagem bibliográfica e temática. O museu conta toda história de Frida por meio das pinturas e de objetos da vida dela, como perfumes, cosméticos, medicamentos e próteses médicas, além de roupas. O acervo é apresentado juntamente com filmes e fotografias para constituir um relato visual fidedigno.
Quando a artista morreu, em 1954, esses pertences pessoais foram trancados por seu marido, o famoso pintor Diego Rivera. Ele disse que só poderiam ser resgatados cinquenta anos depois, em 2004, quando os arquivos se tornaram públicos.
Frida Kahlo é, sem dúvida, uma das artistas latinoamericanas e pintoras mais importantes do século 20. Muitos relacionam a pintura dela com o surrealismo, mas é importante destacar que, embora tenha sido muito amiga de surrealistas, ela pintava sobre a própria vida e experiências pessoais, que foram muito dramáticas e até traumáticas.
Foi após um grave acidente automobilístico, ocorrido aos 18 anos, que Frida Kahlo passou a se dedicar à pintura. Na época, a mexicana ficou de cama durante meses e ficou com sequelas físicas… passou por várias cirurgias durante toda a vida para tentar colocar o corpo novamente em movimento. Ela mesma falava que ela teve dois acidentes na vida dela: o primeiro com o ônibus; e o segundo foi o casamento com o Diego Rivera, 21 anos mais velho que ela. Eles se casaram em agosto de 1929.
A exposição conta muito bem quem foi Frida Kahlo, a partir da obra da artista. No início, quando a conhecemos através das pinturas espetaculares, vemos que ela colocava na arte a própria forma de se arrumar. Ela se pintava com vestidos e retratava fortemente a “mexicanidade”. O apreço da pintora pela própria cultura é demonstrado com respeito.
Vestuário de Frida Kahlo
Nas salas maiores da exposição, está a beleza da moda, que é o tema que nos une aqui. A exposição também é uma ótima oportunidade para quem quer ter mais contato com a cultura mexicana e aprender como são as roupas locais. Vale destacar que, atualmente, os trajes vistos na mostra são usados no México em ocasiões muito especiais, como festas pátrias.
É possível reparar que Frida tinha muita paixão por se arrumar. O cabelo estava sempre com flores. Ela também colocava bastantes acessórios. No vestuário, ela aparecia usando trajes típicos mexicanos, chamados huipiles e tehuanas, com muitas cores vibrantes, além de xales, espartilhos que ela mesma decorava e botas ortopédicas enfeitadas. Bordados e babados também estão no repertório.
Frida Kahlo foi uma mulher que viveu a sua liberdade de diferentes formas: liberdade de pensamento político, liberdade sexual. Foi uma mulher com valores feministas. Disruptiva e destemida, ela não seguia nem obedecia padrões. Houve inclusive uma época em que a mexicana usava o cabelo bem curto, assim como roupas conhecidas como masculinas.
Devido aos problemas de saúde e de mobilidade, muitas vezes ela usava roupas para ocultar as próteses. Frida, inclusive, era bissexual, e não ocultava isso, em uma época em que a pauta de orientação sexual não era comum. Apesar da vida dramática que Frida teve, um dos quadros finais, que ela pintou antes de morrer, chama-se Viva a Vida. A artista deixou um legado eterno.
Frida Kahlo como inspiração na moda
A relevância de Frida Kahlo na moda é mantida não somente por meio do acervo histórico de trajes usados por ela, mas também como referência para designers. Já na segunda e última parte da exposição, vemos Frida Kahlo como inspiração para looks criados por estilistas e grifes renomadas, como Jean Paul Gaultier, Franck Sorbier, Alexander McQueen, Karl Lagerfeld para Chanel, Riccardo Tisci para Givenchy, Maria Grazia Chiuri para Dior, e Rei Kawakubo para Comme des Garçons.
Uma curiosidade interessante é que Franck Sorbier está inserido no meu programa Paris Style Week. Eu o conheço pessoalmente e os meus grupos têm a oportunidade de encontrá-lo também. Na última visita, inclusive, o francês adiantou para minha turma, em primeira mão, que uma das peças que estaria na exibição sobre Frida Kahlo havia sido criada por ele e emprestada para o Palais Galliera. Foi uma honra ficar sabendo dessa informação prévia, contada pelo próprio designer!
O fato que mais me chamou atenção na homenagem à Frida Kahlo foi a escolha do tema centrado em uma personagem latina, já que, geralmente, o Palais Galliera aborda estilistas, principalmente com foco na moda francesa. O museu já hospedou exposições – das quais já falei aqui no blog – dedicadas a personalidades como Alber Elbaz e Coco Chanel.
É evidente que há uma pitada comercial, afinal, Frida Kahlo é uma personalidade de grande interesse mundial. Acredito que a estratégia do museu seja chamar o grande público, além dos fashionistas, que já são o público fiel. Interessante?!
Quer visitar a mostra “Frida Kahlo, Além das Aparências”? Se você tem vontade de vir a Paris ou já está com viagem marcada, é possível ir ao Museu da Moda de Paris por meio do meu serviço de concierge. A exibição ficará em cartaz até 5 de março de 2023. Não perca!